Menina sentada com os braços nos joelhosRosto de menina de perfil

Viva seu ciclo!

Como as fases da lua ou as estações do ano, o corpo da mulher vive ciclos por quase toda a sua vida. Em cada ciclo há variações de hormônios, de humores, de sinais, que podemos aprender e compreender.

Criamos esse livro digital com a intenção de compartilhar conteúdo sobre o ciclo menstrual da mulher, pois o autoconhecimento é a principal via para a liberdade.

Ícone indicando rolagem do mouse para baixo
Três meninas juntas de tons de pele e cabelo diferentes

Vamos começar?

Essa é a organização do conteúdo. Você pode seguir essa ordem, apenas rolando para baixo, ou então selecionar algum capítulo no menu de navegação.

Anatomia
Antes de mais nada, precisamos conhecer o aparelho (ou sistema) reprodutor feminino, desde os órgãos mais internos!
Ciclo Menstrual
Neste capítulo vamos ver o ciclo menstrual em detalhes, com suas respectivas fases, mudanças de humor, energia e hormônios.
Resumo
Ao conhecermos a complexidade de cada fase, conseguimos um entendimento geral do ciclo ovariano e uterino.
Somar
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Você conhece seu corpo?

É claro que conhece!

Você sabe os nomes das partes do corpo que podem ser vistas por fora, como braços e pernas e tornozelos e umbigo e outras, e também de várias partes internas, como pulmão e coração e fígado e estômago e cérebro e várias outras. Mas falta algo… Ah, sim, claro! “Lá embaixo”. “Partes íntimas”.

Hã? Lá embaixo onde? Quais são as tais das partes íntimas? Nesta série vamos dar os nomes e ver exatamente o que tem “lá embaixo”, especialmente no corpo da mulher.

Sim, vai ter imagens!
Sim, vai ter desenhos!
Sim, vai ter palavras!

Mulher gordinha e nua, feliz com seu corpo

Palavras que ninguém fala. Palavras que escondemos por trás de expressões vazias como “lá embaixo” ou “partes íntimas” ou “aqueles dias”. Palavras como vulva, clitóris, vagina, útero, ovários. Palavras como menstruação, ciclo menstrual, sexo, ereção, penetração, pênis, orgasmo, parto.

Mas não vai ter só isso.

Esta série também é um convite pra você conhecer o seu próprio corpo. Prestar atenção. Olhar no espelho. Tirar dúvidas na próxima consulta com um profissional da saúde.

Talvez você esteja pensando “Ah, mas eu tenho vergonha/ nojo/ medo/ raiva/ ódio do meu corpo e principalmente ‘dessas partes’”. Esses sentimentos são comuns, mas… Será que eles nos fazem bem? Ou será que nos fazem mais mal do que bem?

E nesse caso, não seria melhor se a gente buscasse, aos pouquinhos, formas de superá-los e de criar uma relação mais positiva com nossos próprios corpos?

Talvez você esteja pensando “Ah, mas de que adianta saber mais sobre meu corpo?” Adianta pra muita coisa! Adianta pra você se conhecer melhor. Adianta justamente pra evitar vergonha/ nojo/ medo/ raiva/ ódio. Adianta pra você saber se está saudável ou não.

Adianta até, se você tiver disposição pra aprender um pouquinho mais, pra você ter uma boa percepção da fertilidade (do inglês, fertility awareness) e saber como funciona o seu ciclo menstrual, quando está fértil e quando não está. Adianta também pra melhorar a vida sexual!

Talvez você esteja pensando “Ah, mas eu sou uma pessoa esclarecida e me formei em [insira sua formação aqui] e já tenho x anos de vida e de relações sexuais e já sei tudo que tem pra saber sobre meu corpo”. Parabéns! Que ótimo que você já sabe tanto! Aposto que você também sabe que aprender não tem limites, não é mesmo?

Mulher gordinha e nua, feliz com seu corpo

Órgão feminino externo & interno

No excelente livro Women’s Anatomy of Arousal (Anatomia da Excitação da Mulher), a enfermeira obstetra e educadora Sheri Winston compara a genitália feminina com um terreno com três zonas, de fora para dentro: o jardim, a varanda e o templo.

Jardim

As partes mais externas, incluindo o monte pubiano e os lábios externos.

Varanda

A transição, incluindo os lábios internos, a cabeça do clitóris, e 3 aberturas (a abertura da uretra, a abertura da vagina e o ânus).

Ver mais
Ilustração de vulva simplificada
Templo

As partes mais internas, incluindo a vagina e o reto .

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Ilustração de útero simplificado
Ilustração vulva
Jardim

As partes mais externas, incluindo o monte pubiano e os lábios externos.

Varanda

A transição, incluindo os lábios internos, a cabeça do clitóris, e 3 aberturas (a abertura da uretra, a abertura da vagina e o ânus).

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Ilustração útero
Templo

As partes mais internas, incluindo a vagina e o reto .

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Seta indicando rolagem para baixo

Órgão
feminino
externo

Vulva é um termo geral para os órgãos genitais externos femininos.

Muitas pessoas usam a palavra vagina. Por um lado, é interessante repetir e naturalizar a palavra; por outro lado, como veremos daqui a pouco, vagina é outra coisa, e é só um pedacinho dela que (mal) dá pra ver na vulva. Pra quem se interessa por linguagem, aqui tem uma discussão muito

interessante sobre os vários termos usados em português para se referir aos genitais femininos.

Um aviso meio óbvio, mas importante: terá links, desenhos e fotos de anatomia.

Vamos começar?

Clique nas abas acima para conhecer mais :)

Monte Pubiano
Lábios externos
Períneo
Ânus
Ilustração da vulva detalhada
Lábios internos
Cabeça do clitóris
Abertura da uretra
Abertura da vagina
Monte Pubiano
Lábios externos
Períneo
Ânus
Lábios internos
Cabeça do clitóris
Abertura da uretra
Abertura da vagina

A estrutura básica da vulva é a mesma, mas as cores, formatos e tamanhos de cada uma das partes variam MUITO de mulher pra mulher, e mesmo pra uma mesma mulher em diferentes fases da vida, do ciclo menstrual e de excitação.

Vulva diferente

Pra ajudar as pessoas a entenderem toda essa variação (e evitar dúvidas e angústias como “Oh, céus, será que eu sou normal? Só eu sou assim?”), existem dois projetos de fotografia/educação corporal (em inglês) muito interessantes: Large Labia Project (Projeto Grandes Lábios), um projeto de uma ativista australiana que aceita e publica anonimamente fotos de vulvas submetidas por voluntárias, com uma galeria de fotos, depoimentos e informações; e The Labia Library (A Biblioteca dos Lábios), um site que também tem fotos e informações.

Três vulvas de cores diferentes

Além de ver fotos de outras vulvas, e de entender toda a variação que elas podem ter, mais interessante ainda é…

Conhecer a própria vulva!

Isso é fácil pra algumas pessoas, mais ou menos pra outras, e difícil pra outras. Tudo bem. Você não precisa fazer nada que não quiser, e não precisa fazer tudo de uma vez. Mas, se e quando quiser, terá uma excelente oportunidade de se conhecer melhor.

E é muito simples!

Com mãos limpas (ou melhor, banho tomado, o que ajuda a relaxar!), num quarto ou banheiro onde você tenha privacidade, você pode ficar sentada, de cócoras, ou semi-deitada, e usar um espelhinho de mão e uma pequena lanterna (ou ficar embaixo de uma luz forte).

Se você preferir e se sentir à vontade, na sua próxima consulta com um médico ginecologista, pode pedir um espelho pra enxergar a vulva e tirar suas dúvidas ali, na hora! Bons profissionais não vão achar estranho ou ruim, pelo contrário, vão gostar de ajudar e ensinar!

Menina sentada de maiô azul

Também conhecido como monte de Vênus, é a região de pele e pelos que recobre o osso púbico. O nome monte é porque essa região tende a ser um pouquinho mais elevada, porque está sobre um pequeno (e totalmente saudável!) depósito de gordura. A formação do monte pubiano e o surgimento dos pelos nessa região são sinais de puberdade.

Órgão
feminino
interno

Começamos nossa jornada pelo lado de fora e finalmente chegamos aos órgãos mais internos do sistema sexual e reprodutor feminino!

Mais do que uma fábrica de bebês, esses órgãos têm papéis importantes pra sexualidade e pra saúde como um todo!

Ilustração de útero

A vagina é um canal muscular aberto do lado de fora e fechado do lado de dentro, como um copo

(ou seja, não tem como “perder lá dentro” um absorvente, por exemplo!) A vagina é elástica o suficiente pra acomodar o pênis durante o sexo com penetração pênis-vagina (é redundante, mas vale lembrar que existem outros tipos de sexo!) e servir de passagem pro fluido cervical, pro sangue e pro bebê (não, não precisa de nenhum “cortinho pra ajudar”, que por sinal, não ajuda coisa nenhuma e ainda por cima atrapalha). Ou seja, bastante elástica.

Por falar em sexo… Vale a pena falar também de virgindade e hímen. Virgindade é um conceito super relativo, que não necessariamente tem a ver com o estado do hímen.

Ilustração de útero com indicação da vagina

O hímen é uma pele dentro da vagina, na entrada.

Geralmente o hímen não cobre totalmente a vagina, e além disso pode ter buracos, que permitem, por exemplo, a passagem do sangue. O hímen em geral é elástico e, ao contrário do que se pensa, não necessariamente rompe e sangra com a penetração da vagina (seja por um pênis, por uso de absorvente interno ou coletor menstrual, ou por masturbação).

Com exceção de certas condições médicas (que merecem ser investigadas!), dor e sangramento durante o sexo não são uma regra, e tem mais a ver com o estado de excitação e lubrificação da mulher do que com o número de vezes que ela já fez sexo.

O colo do útero se encaixa no final da vagina.

O absorvente interno fica dentro da vagina, bem no fundo, perto do colo do útero. Já o coletor menstrual também fica dentro da vagina, mas logo na entrada, e funciona de forma diferente do absorvente interno.

Além de elástica, a vagina também é autolimpante! Portanto, nada de ducha e sabonete nela! Limpar, só por fora, com água, sabonete leve, e carinho!

O útero é um órgão fantástico.

Sua forma e tamanho mudam muito ao longo do ciclo menstrual e das fases da vida da mulher, mas em geral, o útero tem a forma e o tamanho de uma pera, só que de ponta cabeça. Considerando essa comparação com uma pera de ponta cabeça, a parte maior corresponde à parte superior do útero, onde se encaixam as trompas, enquanto a parte menor corresponde à parte inferior do útero, chamada de colo do útero ou cérvix. O colo do útero se encaixa no final da vagina.

Ilustração de pêras

O útero, assim como os ovários, não fica “flutuando” dentro do abdômen sempre no mesmo lugar.

O útero e os ovários têm certa mobilidade, que varia com as fases do ciclo menstrual e da vida, o nível de excitação da mulher, a postura do corpo ao longo do dia, e o condicionamento da musculatura pélvica. Durante o exame ginecológico, o médico ginecologista usa o espéculo pra abrir de leve a vagina e conseguir enxergar, lá no fundo, o colo do útero.

Ilustração de útero com indicação do endométrio e colo do útero

Aqui tem uma foto (com texto em inglês), e aqui tem uma galeria de fotos (também com texto em inglês) do colo do útero de mulheres de diferentes idades, com e sem filhos, em diferentes fases do ciclo menstrual.

Vendo assim, o colo do útero parece uma bolinha rosada, com um pequena abertura no meio, que é por onde entram os espermatozoides e por onde saem o fluido cervical, o sangue durante a menstruação e o bebê durante o parto normal/natural
Quer saber o que ele consegue enxergar?

O interior do útero é forrado por uma camada chamada endométrio.

Ao longo do ciclo menstrual, sob a influência de diferentes hormônios, o endométrio vai sofrendo mudanças, se preparando para o caso de acontecer uma fecundação e o embrião se implantar no útero. No fim do ciclo, se isso não acontecer, essa camada se desmancha e sai do útero em forma de sangue, na menstruação.

Durante a gravidez, o útero cresce pra acomodar o embrião/feto, a placenta e a bolsa com líquido amniótico. No trabalho de parto em si, as contrações, o peso do bebê e a gravidade vão ajudar na dilatação, fazendo a abertura do colo do útero aumentar pra cerca de 10 cm, permitindo a passagem do bebê!

Sim, é o colo do útero que dilata, não a vagina (ela não precisa disso, é elástica o suficiente pra dar conta do recado)!

Pode até ser que o colo já esteja um pouco macio e dilatado antes de começar o trabalho de parto, mas se não estiver, isso não indica que a mulher “não vai ter passagem”! Após a saída do bebê e da placenta, e pelas semanas seguintes, o útero vai reduzindo de tamanho.

Basicamente, as tubas ou trompas uterinas são os braços do útero. Elas são os dois tubos que ficam um de cada lado da parte superior do útero.

As pontas das tubas ficam bem perto dos ovários, e, de fato, conseguem pegar o óvulo quando ele é liberado pelo ovário durante a ovulação. Por dentro, as tubas são forradas por cílios, que se movimentam. Além disso, as próprias tubas se contraem. A movimentação dos cílios e a contração das próprias tubas ajudam a empurrar o óvulo em direção ao útero. No meio do caminho, pode ser que o óvulo encontre um espermatozoide e ocorra a fecundação, a união entre os dois.

Ilustração de útero com indicação das tubas uterinas

Pois é, a fecundação acontece nas tubas, e não no útero.

A união entre espermatozoide e óvulo dá origem ao zigoto, que segue crescendo (multiplicando células) e viajando pela tuba em direção ao útero.

Eventualmente, ao invés de seguir viagem até chegar ao útero, o zigoto (na verdade nessa fase ele já é chamado de blastocisto) se fixa na parede da própria tuba, levando a uma gravidez ectópica (uma complicação da gravidez, quando o embrião se fixa fora do útero, o que exige cuidados médicos). Nesses casos, a mulher pode ter sintomas como dor abdominal e sangramento pela vagina. A gravidez ectópica pode ser confirmada com exames de sangue e ultrassom.

A laqueadura ou ligação tubária é a cirurgia de esterilização feminina, pra cortar ou bloquear as tubas, e portanto impedir que o óvulo chegue ao útero.

Você sabe dizer onde ficam os ovários?

Ao responder essa pergunta, muita gente aponta pra barriga, mas na verdade os dois ovários ficam na parte baixa do abdômen, um pouco acima do monte pubiano, um do lado esquerdo e outro do lado direito.

O tamanho e a textura dos ovários mudam muito ao longo das fases da vida e do ciclo menstrual, mas, basicamente, pra mulheres em idade reprodutiva (entre a adolescência e a menopausa), os ovários são mais ou menos do tamanho de amêndoas e têm uma textura granulosa, como se tivesse várias bolinhas dentro deles.

Ilustração de amêndoas

Mas tamanho não é documento!

Ilustração de útero com indicação dos ovários

Os ovários são, ao mesmo tempo, fábricas de células reprodutoras, os óvulos, e fábricas de diversos hormônios, incluindo estrógeno, progesterona e testosterona. Todos esses hormônios cumprem papéis muito importantes no nosso corpo, e continuam sendo produzidos pelos ovários, mas em menor quantidade, após a menopausa!

As “bolinhas” dentro dos ovários são os folículos, pequenas bolhas com um óvulo dentro.

A cada ciclo menstrual, os ovários passam por uma série de mudanças e produzem diferentes hormônios, que por sua vez, causam mudanças em outros órgãos do sistema sexual e reprodutor feminino, e em todo o corpo.

Durante o ciclo, um conjunto de folículos cresce e se desenvolve, o que explica a textura granulosa dos ovários, mas em geral apenas um (ou, às vezes, mais de um) folículo cresce mais e chega à fase de ovulação: o folículo se rompe e o óvulo sai do ovário.

Contraceptivos hormonais (incluindo pílula, adesivo, injeção, anel, implante, DIU — dispositivo intrauterino — hormonal) em geral bloqueiam a ovulação.

Pode parecer simples, mas conseguir isso é um processo complexo e com efeitos também complexos sobre o corpo.

O ciclo menstrual feminino

Neste capítulo vamos ver o ciclo menstrual em detalhes. Entre muitas outras coisas interessantes, vamos ver que o ciclo não precisa ter 28 dias pra ser regular, que a ovulação não necessariamente acontece no dia 14 do ciclo, e que é possível prever — e acertar — a data da próxima menstruação.

Alguns esclarecimentos importantes antes de começar:

- O ciclo menstrual sofre mudanças ao longo da vida e em certas situações: primeiros anos após o início da menstruação, primeiras semanas/meses após parar de usar contraceptivo hormonal, síndrome de ovário policístico, pós-parto, amamentação, pré-menopausa e menopausa.

- Essa descrição a seguir é do ciclo menstrual natural, quando a mulher não usa nenhum tipo de contraceptivo hormonal (como pílula, adesivo, injeção, anel, DIU — dispositivo intrauterino — hormonal).

O ciclo inicia na menstruação e tem duas grandes fases: a fase pré-ovulatória (fase folicular) e a fase pós-ovulatória (fase lútea).

Neste capítulo iremos detalhar as duas grandes fases, dividindo elas em oito:

Figura apresentando as oito fases do ciclo menstrual

1. Menstruação

1. Menstruação

Menina sentada cabisbaixa

Menstruação é o sangramento que ocorre cerca de 14 dias após a ovulação do ciclo anterior. Esse sangramento é provocado pelo desprendimento da camada mais interna do útero, o endométrio, que se desenvolveu no ciclo anterior.

Repito: menstruação está relacionada à ovulação do ciclo anterior!

Logo mais veremos por que isso é importante. O primeiro dia de menstruação com fluxo de sangue vermelho é considerado o primeiro dia do ciclo menstrual.

Num ciclo saudável, a menstruação dura entre três e sete dias de fluxo com sangue vermelho.

A intensidade do sangramento varia de leve a forte (5ml a 80ml, somando o volume de sangue de todos os dias de menstruação em um ciclo. Isso equivale, no máximo, a 16 absorventes), em geral sendo forte nos primeiros dias e reduzindo aos poucos.

Essa fase do ciclo pode ser acompanhada de cólicas e outros sintomas, mas de intensidade leve. A energia e o humor podem estar um pouco mais em baixa.

Você acabou de rir descaradamente dessa descrição? Sua menstruação é um inferno, em que você cospe fogo de tanto ódio ou se derrete chorando, além de sangrar e se contorcer de dor até a morte? Sim, exagerei aqui, mas pra muitas mulheres, essa é uma descrição bem mais parecida com sua menstruação.

O ciclo menstrual envolve a colaboração e comunicação entre diferentes partes do corpo. Uma delas é a hipófise ou pituitária, uma pequena, mas poderosa glândula que fica na base do cérebro. No início do ciclo menstrual, a hipófise manda uma mensagem para os ovários. O mensageiro é o hormônio folículo estimulante (do inglês, follicle stimulating hormone, FSH) e a mensagem é “ovários, bora começar a trabalhar, fazer esses folículos crescerem aí dentro!”.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase menstruação

2. Logo após a menstruação

2. Logo após a menstruação

Menina sentada olhando para cima

Após o fluxo de sangue vermelho, pode ter um ou dois dias ainda com uma pequena quantidade de sangue vermelho-escuro ou marrom (“borra de café”).

Em geral, os níveis de humor e energia, que estavam um pouco baixos na menstruação, vão se recuperando agora.

Lá nos ovários, vários folículos começam a se preparar, crescendo e se desenvolvendo. Nessa fase, os ovários dão um toque pro útero começar a trabalhar também. O mensageiro dos ovários é o hormônio estrógeno, que é produzido pelos folículos à medida em que eles vão crescendo, e a mensagem é “útero, põe água no feijão e arruma a cama do quarto de hóspedes”. Ou seja, o útero tem que começar a produzir fluido cervical e preparar o endométrio.

Fluido cervical, como já vimos, é um fluido natural e saudável que é produzido pelo colo do útero.

É totalmente diferente de corrimento não-saudável, que costuma estar associado com irritações e doenças. O fluido cervical permite que os espermatozoides sobrevivam por mais tempo dentro do sistema sexual e reprodutor da mulher! E aqui podem acontecer duas coisas. Em ciclos longos, pode demorar mais alguns dias pro útero começar a trabalhar. Nesse meio tempo, não tem produção de fluido cervical, e com isso os espermatozoides tem uma expectativa de vida muito menor. Ou, em ciclos mais curtos, pode não ter dias secos, sem produção de fluido cervical, e da menstruação já passar direto pra próxima etapa.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase logo após menstruação

3. Antes da ovulação

3. Antes da ovulação

Menina caminhando alegremente

Essa costuma ser uma fase com energia e humor em alta.

Nos ovários, os folículos continuam crescendo e produzindo estrógeno. Um deles cresce mais e ganha destaque. No útero, começa a produção de fluido cervical. Em geral, o fluido começa mais seco, com um aspecto firme e grudento, e cor mais opaca, bege. Depois, ele vai ficando mais úmido, com um aspecto cremoso, e cor menos opaca, mais esbranquiçada. Depois, ele fica mais úmido ainda (não é a toa que a mensagem dos ovários pro útero é “põe mais água no feijão”!), com um aspecto de clara de ovo, transparente ou muito levemente esbranquiçado, bem escorregadio e lubrificante. Às vezes, ele fica tão úmido que realmente parece água, mas mantém a lubrificação. Basicamente, quanto mais úmido o fluido, mais perto da ovulação a mulher está.

Dá pra ver alguns exemplos das diferentes texturas do fluido cervical nesta foto do livro Taking Charge of Your Fertility (Assumindo o Controle da Sua Fertilidade). Esse fluido é produzido pelo colo do útero e escorre pela vagina até chegar à vulva. Assim como dá pra sentir o nariz escorrendo quando se tem um resfriado, e dá pra sentir o sangue escorrendo pela vagina durante a menstruação, também dá pra sentir o fluido cervical escorrendo pela vagina durante essa fase do ciclo menstrual. Além disso, a mulher pode sentir o fluido cervical ao limpar a vulva com papel higiênico. Tem dias que o papel passa raspando (essa é a fase anterior, sem fluido); tem dias que o papel passa “macio”, nem muito difícil, nem muito fácil; e tem dias que o papel passa deslizando, escorregando. Além de sentir, dá pra ver o fluido cervical no papel ou na calcinha.

Graças ao fluido cervical, quaisquer espermatozoides que entrem no sistema sexual e reprodutor feminino agora ficam lá curtindo a vida por DIAS!

Além de produzir fluido cervical, nessa fase o útero também fica ocupado preparando o endométrio, o seu revestimento interno, que será a possível cama do quarto de hóspedes, caso um hóspede (embrião!) apareça! O endométrio vai ficando mais grosso. A abertura do colo do útero, chamada os, que é por onde entram os espermatozoides e por onde sai o sangue, o fluido cervical, e eventualmente um bebê, vai ficando mais aberta. O colo vai ficando mais alto e mais macio ao toque, tudo sob efeito do estrógeno. Além disso, a mulher pode perceber outras mudanças, como inchaço das mamas e dos lábios da vulva.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase antes da ovulação

4. Logo antes da ovulação

4. Logo antes da ovulação

Menina muito feliz dançando

Em geral, nessa fase, a energia e o humor estão ótimos!

O fluido cervical está no ápice de umidade. O colo do útero está alto, macio e aberto. Os espermatozoides fazem a festa com isso, e mesmo que já tenham chegado há alguns dias, continuam lá, firmes e fortes!

O nível de estrógeno está no máximo. Com isso, lá no cérebro, a hipófise percebe que está tudo indo bem nesse ciclo menstrual e manda outra mensagem pros ovários. O mensageiro é o hormônio luteinizante (luteinizing hormone, LH) e a mensagem é “libera esse óvulo aí”!

Ilustração do útero, ovário e energia na fase logo antes da ovulação

5. Ovulação

5. Ovulação

Menina de pé refletindo

É isso o que o folículo faz, libera o óvulo, que sai do ovário e é captado pela tuba uterina mais próxima. Em geral, um óvulo é liberado por um folículo em um dos ovários. Eventualmente, os dois ovários podem liberar óvulos, em um curto intervalo de tempo de um pro outro, de até 24h. Você leu ou ouviu dizer que a ovulação ocorre no dia 14 do ciclo? Não é bem assim!

A ovulação pode ocorrer no dia 14 do ciclo… Mas também pode ocorrer no dia 8 ou dia 10 ou dia 16 ou dia 21… Ovulação não tem data marcada!

Nessa hora, quando o óvulo é liberado, se tiver espermatozoides dentro do sistema sexual e reprodutor da mulher (não importa se eles acabaram de chegar ou estão ali há dias esperando pelo óvulo), um deles pode alcançar o óvulo na tuba uterina e a fecundação pode acontecer!

Perto da ovulação, pode ocorrer um leve desconforto ou dor abdominal (localizada, como uma pontada; ou generalizada, como uma cólica). Além disso, pode acontecer outra coisa: um pequeno sangramento com a ovulação, de um ou alguns dias. E aqui tem um detalhe que pode parecer besta, mas é muito sério. Esse sangramento às vezes é confundido com menstruação, o que é totalmente errado! Lembra do que falei lá em cima sobre menstruação? Não importa quão regular seja o ciclo, não dá pra prever a data da ovulação apenas contando dias. Mas, observando os sinais de fertilidade do corpo dia a dia, aí sim dá pra saber se a ovulação está próxima ou não, e se ela já passou.

Menstruação é uma coisa, sangramento de ovulação é outra!

Menstruação tem a ver com a ovulação que aconteceu no ciclo passado: aquele óvulo que foi liberado cerca de 14 dias antes já era, não existe mais!Sangramento de ovulação tem a ver com a ovulação que está acontecendo no ciclo atual: este óvulo está sendo liberado agora e está vivinho da silva! Viu que diferença enorme? Viu a confusão que isso pode gerar?

Ilustração do útero, ovário e energia na fase ovulação

6. Logo após a ovulação

6. Logo após a ovulação

Menina de pé cabisbaixa com as mãos sobre o peito

No ovário, o folículo, agora vazio, passa a ser chamado corpo lúteo. Ele continua produzindo estrógeno, mas em menor quantidade. Além disso, agora, com o óvulo liberado e a possibilidade de uma fecundação, é preciso tomar algumas providências.

O corpo lúteo manda uma mensagem pros próprios ovários e pro útero. O mensageiro é o hormônio progesterona (que significa “pró-gravidez”). A mensagem é “pára tudo”  e “bora ajeitar a casa”. Ou seja, como um óvulo já foi liberado, os outros folículos não precisam continuar crescendo nos ovários.

A progesterona tem o efeito de impedir uma futura ovulação extra no mesmo ciclo menstrual.

Além disso, no útero, a progesterona estimula o endométrio de forma diferente do estrógeno. O estrógeno fez o endométrio crescer, a progesterona agora faz com que o endométrio se torne glandular e rico em vasos sanguíneos, condições ideais para que o embrião se fixe no útero.

Nessa fase, o fluido cervical vai ficando cada vez mais seco, ou simplesmente para de ser produzido de uma vez. O colo do útero vai se fechando e ficando mais firme e baixo.

Apesar do significado do nome, a progesterona (assim como os outros hormônios!) é importante não só para a gravidez, mas também pro ciclo menstrual e pra saúde em geral, e tem diversos efeitos sobre todo o corpo! Um desses efeitos é aumentar o metabolismo, e isso se reflete no aumento da temperatura basal.

A temperatura basal é a temperatura do corpo em estado de repouso, medida com um termômetro específico logo após acordar, antes mesmo de se levantar. Sob o efeito da progesterona, a temperatura basal aumenta após a ovulação.

Nas primeiras horas e dias após a ovulação, o óvulo continua vivo. Se acontecer a fecundação, o embrião formado vai viajar pela tuba uterina em direção ao útero durante os próximos dias.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase logo após a ovulação

7. Após a ovulação

7. Após a ovulação

Menina sentada abraçando os joelhos cabisbaixa

Nessa fase, se não houve fecundação, o óvulo já morreu e se desintegrou.

Se houve fecundação, o embrião finalmente chega ao útero e fixa residência lá em torno de sete dias após a ovulação, e começa a mandar uma mensagem pro corpo lúteo. O mensageiro é o hormônio com o charmoso nome de gonadotropina coriônica (do inglês, human chorionic gonadotropin, hCG), e a mensagem é “não manda o endométrio embora não, preciso dele”. Com isso, o corpo lúteo continua produzindo progesterona, que continua estimulando o endométrio, e assim o embrião continua lá dentro do útero.

Testes de gravidez medem o nível de hCG, mas se o teste for feito muito cedo, pode nem ter dado tempo de o embrião chegar lá e mandar seu sinal de vida, e aí o resultado do teste vai ser (falso) negativo. No entanto se o teste for feito na data certa, vai dar positivo!Nessa fase, o fluido cervical está seco, ou simplesmente não tem mais fluido. O colo do útero está fechado, baixo e firme. Nessas condições, os espermatozoides sobrevivem por muito menos tempo. Mas não adianta, afinal de contas, não tem mais óvulo a essa altura do campeonato. Pelo efeito da progesterona, a temperatura basal continua elevada.

A energia e o humor se mantêm altos, no começo, mas depois vão caindo aos poucos.

Alguns sintomas podem acontecer, em intensidade leve, como constipação, inchaço, e sensibilidade nas mamas, principalmente nos mamilos. Mas sintomas muito intensos, ou TPM, tensão pré-menstrual, merecem ser observados com carinho e atenção: se persistirem por vários ciclos, vale a pena buscar o apoio de um profissional de saúde.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase após a ovulação

8. Logo antes da menstruação

8. Logo antes da menstruação

Menina sentada de braços cruzados.

Se não houve fecundação, o corpo lúteo se desintegra cerca de 14 dias após a ovulação. Com isso, os níveis de estrógeno e progesterona caem. Consequentemente, a temperatura basal e o endométrio também caem. Podem ter um ou dois dias de sangramento leve, vermelho-escuro ou marrom. E em seguida, vem a menstruação e um novo ciclo se inicia.

Não é a menstruação que atrasa…
É a ovulação!

Coitada da menstruação, já tão incompreendida, levando mais uma culpa que não é dela! Não tem essa de menstruação atrasar. A menstruação é superorganizada e pontual, sempre chega na hora combinada. Quem às vezes se atrasa é a ovulação.

Ilustração do útero, ovário e energia na fase logo antes da menstruação

Resumo

O ciclo menstrual pode ser dividido em duas grandes fases, a fase pré-ovulatória (fase folicular) e a fase pós-ovulatória (fase lútea). A fase pré-ovulatória vai desde a menstruação até a ovulação. A fase pós-ovulatória vai desde a ovulação até a véspera da próxima menstruação (e portanto, do próximo ciclo).

A fase pré-ovulatória tem duração MUITO variável! O número de dias varia de mulher pra mulher e também em uma mesma mulher de ciclo pra ciclo. A fase pós-ovulatória tem duração POUCO variável, em torno de 14 dias! O número de dias varia um pouco, podendo ser de 10 a 16 dias, pra ciclos menstruais considerados saudáveis. Mas, pra uma mesma mulher, o número de dias vai variar menos ainda, questão de um ou dois dias.

Por exemplo, pra Maria, a fase pós-ovulatória pode ser 12 dias, mais ou menos um dia. Pra Ana, pode ser 15 dias, mais ou menos um dia. E pra Clara, pode ser 13 dias, mais ou menos um dia. Assim, quando a ovulação atrasa… Isso empurra a menstruação mais pra frente, mas ela continua vindo sempre mais ou menos 14 dias depois da ovulação! O bom disso é que, se você souber quando ovulou, automaticamente sabe quando vai menstruar!
E, pra quem quer engravidar, isso também é importante, porque o momento ideal de fazer um teste de gravidez (e evitar toda a expectativa e frustração de um falso negativo) é justamente no fim da fase pós-ovulatória.

Figura de calendários apresentando a duração entre um ciclo de uma mulher e outras

Regular ou irregular, eis a questão

Muita gente acha que, se a mulher não é um robô que SEMPRE tem ciclos menstruais de 28 dias, então ela tem ciclos irregulares. Não é bem assim! Precisamos diferenciar duração e regularidade. A duração do ciclo menstrual é o número total de dias do ciclo, contando o primeiro dia de menstruação como o primeiro dia do ciclo, e a véspera da menstruação seguinte como o último dia do ciclo.

Ciclos menstruais considerados saudáveis são aqueles cuja duração seja de no mínimo 24 e no máximo 35 dias! Já a regularidade do ciclo tem a ver com o quanto a duração muda de um ciclo pro outro, pra uma mesma mulher. Ciclos menstruais considerados regulares são aqueles em que a duração não muda mais do que 20 dias de um ciclo pro outro.

Resumo ilustrado

Fase Folicular
Fase Ovulatória
Fase Lútea
FSH
ESTROGÊNIO
LH
PROGESTERONA

Resumo ilustrado

HORMÔNIOS

Legenda

FASE FOLÍCULAR

CICLO UTERINO

CICLO OVARIANO

HUMOR

ENERGIA

FASE OVULATÓRIA

CICLO UTERINO

CICLO OVARIANO

HUMOR

ENERGIA

FASE LÚTEA

CICLO UTERINO

CICLO OVARIANO

HUMOR

ENERGIA

Resumo ilustrado

Fase Folicular
Fase Ovulatória
Fase Lútea

Legenda

Por trás do projeto

O livro que você acabou de ler é um projeto da parceria entre o Lado Oculto da Lua e a Não Editora.

Por trás do projeto

O livro que você acabou de ler é um projeto da parceria entre o Lado Oculto da Lua e o Coletivo Idílio.

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